Às vezes gostava de apenas sentir o teu doce sussurrar... e adormecer assim, com a suavidade das tuas palavras a preencherem os meus sonhos... Esses pequenos imaginários imaginados por quem apenas lhe é permitido imaginar...
Gostava de ser o teu tempo, de o conseguir entregar. De me lançar sem receios no abismo do tempo contigo e encontrar finalmente a paz na profundidade do teu olhar... Só assim o meu tempo seria teu escravo...

Onde o mar tocar a terra,
E quando o sol mergulhar
Nas suas águas douradas,
Aí, eu te quero tocar;
Quero-te sentir e observar.
Os teu cabelos embalados
Por uma força suave.
E tudo se torna numa imagem,
Suspensa na memória de uma lágrima,
Que lamenta o passado que não houve.

Já alguma vez pensaste o que é ser um anjo?... Ter tempo, ser eterno, aprender com isso e ser paciente. Obter a calma e a paz. Ser transcendente ao mundo. Existir sem sentir o que toca, cheira ou saboreia. Não sentir fome, dor, frio, calor. Ter uma mente limpa e concreta. Não conseguir sentir ódio, medo, inveja, sentir apenas o que é belo, a amizade e o amor. Não ter raiva nem perante o inimigo nem à sua condição. Saber aceitar, compreender, não questionar, responder!

O passado que temos apagado...
Já me custa a lembrar.
É como um sonho
Que se torna vago ao acordar.
Mas era doce, era suave.
Numa paz divina
Éramos anjos sem o saber,
Mas despertaste sem me aperceber,
Escapaste e não te agarrei.

Agora..

Corpos desvanecidos...
No silêncio do crepúsculo
Ecos de palavras
Deambulam na memória.
Dores marcantes
Falam-me como água,
Que me faz sentir
O frio do mundo
E o calor do meu corpo.

Não penses em mim.
Fala-me num suspiro,
Beija-me num adeus
E deixa-me navegar sozinho.

Não me procures.
Fecha os teus olhos,
Sente a lágrima na tua face
Levar os sentimentos.

Estende-te no teu leito.
Adormece e sonha,
E, ao acordares,
Esquece tudo o que foi
E não vontará a ser.